sexta-feira, 28 de setembro de 2012

Noite passada eu sonhei que alguém me amava. Nenhuma esperança, nenhum dano. Só outro alarme falso.


  E você pousava silencioso a cabeça no meu colo e lá descarregava toda a sua insegurança. Os meus dedos traçavam caminhos demoradoas por entre os seus cabelos e ali eu descançava. E ali eu reconhecia a paz. Foi uma pena o despertador tocar, Zé. Eu teria te mostrado os mais profundos poemas com meus olhos grandes. Eu teria encontrado um refúgio além das entranhas do oceano, onde coubessem todas as suas mágoas e seu desalento, onde você choraria todos os seus fracassos expostos.
 Se perca comigo, Zé. Dê uma volta do ponto mais escuro ao ponto mais nobre do mundo do inconsciente ao meu lado. Se jogue no abismo dos sonhos junto de mim e deixe-me transcender a escuridão com você. 
 O sonho é mesmo a pior das cocaínas. Me faz acordar com o gosto forte que tem a tua ausência cravado na boca. Me obriga todos os dias a conviver com a dúvida.

 E você, Zé? Com quem você sonhado? Qual é o gosto que amanhece na sua boca quando o sonho te tira o juízo?

domingo, 23 de setembro de 2012

E há um gosto em minha boca enquanto o desespero toma conta


 É estranho, Zé. Na verdade, é desolador quando eu olho para todos os lados e me encontro completamente sozinha. Eu vejo as coisas acontecendo ao meu redor sem conseguir me mexer e procuro, sem resultado, algum lugar ou alguém pra quem fugir. E eu nada encontro, Zé. Não há João ou qualquer outra pessoa a quem recorrer. Não há cartas que me poupem esta angústia, nem cachorro, comida ou bebida que o faça; não há abismo onírico onde eu possa me afundar e desaparecer.
 Eu também te observo ir e vir silenciosamente através dessas estradas sinuosas e escuras tão distantes de mim. As vezes, Zé, eu só queria desitir. Queria encontrar um meio de voar pra longe de você e esquecer do quanto você me importa. Queria rasgar todas as cartas e reverter o fluxo da chuva, que acinzenta tudo e molha tudo e trás de volta essa velha vida que não vai mais me servir.
 Eu vivo uma eterna segunda-feira. Algo que vem de lá do fundo - uma dessas coisas inomináveis -, me faz pensar que esta é uma vida que não merece ser vivida, ou que pelo menos não gera vontade para ser. Mas como findar o ciclo interminável dos desejos sem intenção e tristezas silenciosas? Eles nunca se vão. Eu nunca sei se se trata de peso de mais ou se é da leveza que falamos. Eu nunca sei de nada.

 Espero te encontrar ao menos nos meus sonhos, Zé.

sábado, 15 de setembro de 2012

Eu que não fumo, queria um cigarro. Eu que não amo você, envelheci dez anos ou mais nesse último mês


  Sabe, João, tá cada vez mais dificil lidar com a sua ausência, mas talvez isso não seja tão dificil quanto lidar com a sua inconstância. Cada vez que a vida me dá um desses tapas na cara, eu fico imaginando onde te encontrar, pra onde você fugiria comigo, onde a gente iria se esconder até que os raios parassem de romper no horizonte. Mas eu sei, Zé, eu sei você que você se lançou às profundezas do oceano, onde todas as esperanças afundam. Eu queria me perder no oceano também...

 É tão estranho, tão confusa a forma como você vai e volta sem se explicar. E eu fico perdida, porque sempre é noite e o oceano é imenso. Quando a dor é muito forte e o silêncio acaba por me ensurdecer, eu acabo por te procurar nas profundezas de  um copo de vodka, mas não se preocupe, eu juro que não é Balalaika.

 Eu queria tanto poder te falar sobre como depois de um tempo as estrelas mais brilhantes acabam por despencar de lá do céu e caem sobre a minha cabeça. Eu queria te falar sobre o conforto que a gente só encontra na solidão. Eu queria sua voz melancólica me dizendo qualquer coisa sem sentido agora.

 É normal se sentir insignificante todos os dias, Zé?

quinta-feira, 6 de setembro de 2012

Quando a escuridão rompeu, eu só desmoronei e chorei


   http://grooveshark.com/s/Wonderwall/3JJBoz?src=5

 A vida é toda torta e tão estranha, Zé. Eu sou toda torta e tão estranha também. Eu me lembro como se fosse ontem o quanto os primeiros anos foram difíceis quando isso começou. Eu me lembro o quão perdida e confusa eu estava ao ter que lidar com tudo sozinha.
 Eu não consigo olhar para o futuro, imaginar um futuro. Sou feita de sonhos e vontades livres de intenção e por mais que isso seja a coisa mais pura, é também a mais assustadora.

 Eu sinto medo a cada amanhecer. Medo de acordar sozinha. Medo de seguir sozinha, de viver estagnada nesse vazio, de viver presa a esse olhar cinza que mancha tudo o que eu vejo. Eu tenho medo ao pensar em viver até o ultimo dia mergulhada na mesma angustia infinita e implacavel.
 Eu choro a cada deitar para dormir. Choro tudo o que eu sou, tudo o que faço, tudo o que sinto, toda a minha culpa. Choro toda a minha existência. Há vezes em que nem mesmo eu acredito que esse choro baixo e perdido sustenta o mesmo mar de duvidas e incertezas há 5 anos. Ah, Zé, como é triste não ter pra onde fugir...

 "Toda criatura viva nesse mundo morre sozinha. Eu não quero morrer sozinha."